terça-feira, 10 de novembro de 2009

Fandel: um fanzine de Cordel

Mesmo aqueles que não sabem precisar exatamente o significado do termo Cordel já devem ter ouvido falar no assunto. Para os que estão esquecidos, vale a lembrança: cordel, ou literatura de Cordel é uma forma popular, originariamente oral, de poesia.

No Brasil, temos essa literatura muito disseminada no Nordeste. Será que você já viu algum folheto cordelista e/ou parou para pensar do que se tratava?

Neste fanzine virtual, você conhecerá um pouco sobre o Cordel e sua história, onde ele aparece e algumas curiosidades que valem a pena serem lidas!

Esperamos que você desfrute desta literatura pouco divulgada, mas muito apreciada do Oiapoque ao Chuí.

Acompanhe o índice dessa edição:
  1. História do Cordel: como tudo começou...
  2. Folheto no Fandel: Os atropelos do português
  3. Literatura de Cordel nos entrelaces da tradição
  4. Curiosidades
  5. Cybercordel
  6. Xilo in focus
  7. Cinecordel
  8. Cordeventos


História do Cordel: como tudo começou...

O Cordel tem origem nas feiras medievais da Península Ibérica, onde era apresentado pelos trovadores. Pelo fato de nessa época não existir tipografia ou qualquer tipo de impressão gráfica, os contos eram cantados e, para melhor fixação, realizados através de versos. Durante essa época, pouquíssimos eram feitos através de manuscritos.

Os folhetos de Cordel chegaram ao Brasil através dos colonizadores portugueses, que os trouxeram através de “folhas soltas” ou mesmo em manuscritos. Apenas no final do século XIX, com o aparecimento das pequenas tipografias, que a literatura de Cordel se fixou no Brasil como cultura popular e oral, construindo uma tradição própria.

No Nordeste, o ano de 1830 foi considerado o ano de partida da poesia popular brasileira. Uglino de Sabugi foi o primeiro cantador popular, filho do “pai da poesia popular”, Agostinho Nunes da Costa, que contribuiu muito para tornar o Cordel parte da literatura popular nordestina.

Através dos novos meios de comunicação o Cordel pode ser difundido para todo o Brasil. Dentre os cordelistas atuais destacamos: Antônio Klévisson Viana, Chico Calda, Joaquim Batista de Sena e João Cesário Barbosa.

Quer saber mais? Assista a vídeos que tratam do Cordel nos dias contemporâneos.
  • Documentário sobre literatura de Cordel


  • Reportagem sobre o Cordel nos dias atuais

Folheto no Fandel: Os atropelos do português

Para aprender português
É preciso ser capaz;
Eu tentei mais de uma vez,
Aprendi, não tento mais.
Minha voz ficando rouca,
Com as palavras na boca,
Lendo de frente pra trás.

Acento na última sílaba
É a palavra oxítona,
Caso seja na penúltima,
Passa a ser paroxítona;
Como contrário da última,
Sendo na antepenúltima,
Já é proparoxítona.

Exemplo de oxítonas
Atrás, feliz e amor
Acento na última sílaba
Observe por favor
Não dou a dica completa
Por ser um simples poeta
Nunca fui um professor.

Exemplos de paroxítonas:
Malha, carro, editora
Se caso você duvida
Desta mente criadora,
Faça o favor de estudar,
Ou então de perguntar
A professor ou professora.

Sendo proparoxítona
Fácil de exemplificar:
Ácido, oxítona, médico.
Três pra você se lembrar.
Precisa ficar atento
E colocar o acento
Na sílaba forte que há.

Uma palavra só pode
Ter dois tipos de acento.
Um tônico ou gráfico.
Confirma meu pensamento.
Eles tentam esclarecer,
Facilitam pra você
Um melhor entendimento.

Por favor, pegue a gramática,
Leia os livros também;
Não posso ensinar tudo
Sem ganhar um só vintém.
Pro papo não ficar longo,
Vamos falar no ditongo
E quantos ditongos ele têm.

Recebe acento gráfico
Todo ditongo aberto
Mas há sempre o crescente.
Por isso fique esperto,
Ligado, atento nos fatos
Pois há, também os hiatos
Rondando, sempre por perto.

Li num livro outro dia
Algo muito “incompreensivo”,
Dizendo: “a palavra afim
Pode ser substantivo.”
Só depois fui percebendo
No mesmo estava-se lendo:
É também adjetivo”.

Não é “aluga-se casas”
Que você tem que marcar;
Mas, sim alugam-se casas.
Se você tem pra alugar,
Cuidado rapaziada,
Essa língua é complicada
E pode nos enganar.

Pleonasmo é a ideia
De palavra repetida.
Subir pra cima é o exemplo
Que já te dou de saída.
Nem sendo muito macho,
Não dá pra subir pra baixo
Então é frase perdida.

New look, uísque e futebol
Vem lá do povo inglês;
Dança, chope, do alemão,
Detalhe vem do francês
Pizza, tchau e piano
Vêm do povo italiano,
Fiquem sabendo vocês.

Barbarismos são palavras
Que vêm lá do estrangeiro:
Abajur, pneu, chofer
São os exemplos primeiros.
Meu cordel em português
Vai descrever pra vocês
Num linguajar brasileiro.

Germanismo do alemão,
Galicismo do francês;
Hispanismo do espanhol,
Anglicismo do inglês.
Tudo isto é barbarismo
Ou então estrangeirismo
Usados no português.

Vamos deixar estes “ismos”
E falar de cacofonia,
Palavras desagradáveis
Que ouço no dia-a-dia;
Por incrível que pareça
Penetram na minha cabeça
Causando disritmia.

Por exemplo “ela tinha”,
“Por cada” que porcaria,
Olhe, outra “vez passada”,
Essa me causa agonia.
Vê se você não complica
E aí está a dica
Do que é cacofonia.

Cuidado com a gramática,
Vê se você a domina,
Só se usa crase antes
De palavra feminina.
Repito mais uma vez:
Zele o nosso português
Se não você o assassina.

A unidade de som
Que existe na fala humana
É chamada de fonema.
O poeta não te engana.
Há dois e bem desiguais:
Vocálicos e consonantais.
Esta é a dica, bacana.

Não espere só por mim,
Sou um simples incentivo,
Leia os pronomes do tempo,
Também os demonstrativos.
Para tudo melhorar,
Além de estudar,
Precisa ser criativo.

Esse termo “estrambólico”
Vê se tenta consertar,
O certo é estrambótico,
Eu digo e posso provar.
Vê se dá pra perceber
Não troque L por T,
Que desse jeito não dá.

Tanto faz fui eu que fiz,
Ou então, fui eu quem fez,
Cuidado com os atropelos
Que tem nosso português.
Quando eu fui estudante,
Não vacilei um instante,
Por isso falo a vocês.

Nunca diga “grandessíssimo”,
Vê se aprende a falar;
Gradíssimo já é o máximo
Não dá mais pra aumentar.
Não queira falar bonito,
Esse termo esquisito,
É só pra te complicar.

Haja vista é melhor
Que o termo “haja visto”,
Não tente falar bonito,
Vê se acaba com isto.
Pra quem não sabe falar,
Melhor é não enfeitar,
O que estava previsto.

Não diga “mais grande”
O certo mesmo é maior,
Leia o Dicionário,
Pra não cair na pior
Pra ter uma língua prática
É preciso ler gramática
Já dizia minha avó.

Em um português moderno
Apenas menos é usado,
Não se esqueça que “menas”
Já está ultrapassado,
Saiba você, nesse instante:
Pra ser um bom estudante,
Precisa estar preparado.

Mulheres que pensam bem
Não dizem “muito obrigado”,
O certo é “obrigada”,
Obrigado é errado.
Consertem o português,
Pois desse jeito vocês
Espantam seus namorados.

Em preposição, cuidado
No mim e também no eu,
“Isto é para eu comer”;
Vê se você entendeu.
Isto aqui é pra mim,
Com este chego ao fim,
Creio que já aprendeu.

Saiba que o verbo gostar
Exige preposição
Pra poder ser transitivo,
Tem que ter “de” na questão.
Pra coisa não complicar
É bom você estudar,
Eu desperto a atenção.

Existe o verbo partir,
Se partes, fico a chorar,
Calado, sofro esperando,
Olhando o verbo “voltar”.
E sonho te namorando,
Num abraço te beijando,
Com vontade de amar.

O “são” está corretíssimo,
E o “santo” também está,
Somente no masculino
Que podemos variar.
E vê se não adianta,
A santa palavra “santa”,
Somente santa será.

A vírgula esclarece
No seu local adequado,
Precisa saber usar.
Por isso tome cuidado
Garanto e não iludo:
Pois ela complica tudo,
Quando em lugar errado.

Sei que discurso direto
Reproduz o pensamento.
O indireto precisa
De um “que” sempre atento.
Veja só, meu camarada,
A língua é mais complicada
Que os caminhos do vento.

Autor: Costa Senna


Literatura de Cordel nos entrelaces da tradição


“Na Espanha e em Portugal,
no século dezesseis,
o Cordel, digo a vocês,
já não era algo de novo.
Pois o mesmo enfatizava,

estorias e expedições,

falava das tradições,
ligadas a cada povo.

As narrativas e estórias
na memória armazenadas,
de pai pra filho, passadas,
do que ficava pra trás.

Romances, guerras, viagens,
faziam parte das listas,
ou vitorias e conquistas,
ode a mitos regionais.

Bem antes do surgimento,
da imprensa e do jornal,
o Cordel era em geral,
a fonte de informação.

Os fatos mui relevantes,

ou passagens corriqueiras,
tinham, de qualquer maneira,
no Cordel, divulgação.”

Nascida no bojo de várias vozes e por vezes acompanhada de viola ou outro instrumento de corda, a poesia popular cantada, que hoje muitos chamam Cordel ou literatura de Cordel, ganhou graças em muitos corações da terra brasílica quando aqui chegou trazida vagarosamente no vai e vem das naus portuguesas.

Carregada de temas heróicos da cavalaria novelesca tradicional, próprios das crônicas medievais, esta arte era, inicialmente, reproduzida tal qual mandavam as convenções do gênero construídas em Portugal e na Espanha. Mas não foi preciso muito tempo para que o exotismo brasileiro e as frutíferas manifestações populares insurgentes tomassem conta dos assuntos tratados nestes versos.

Do sincretismo veio a originalidade: Pedro Malasartes, João Grilo, Papa-figo e uma centena de outros personagens folclóricos foram tomando forma na poesia e se espalhando no gosto do povo através de cantorias e apresentações públicas.

A tardia introdução da imprensa no Brasil contribuiu, para a sustentação deste processo nas raízes da oralidade. E quando esta “literatura” passou a ser impressa, sua solidificação começou a ocorrer: os versos foram escritos, editados, publicados e vendidos em folhetos .

Diante de todas estas transformações, abarcando um período histórico que vai desde o final do século XVII quando alguns trovadores trazem esta forma literária ao Brasil até o surgimento da imprensa no início do século XIX, os temas e valores desta arte poética mantiveram-se firmes aos contornos e entrelaces da tradição oral folclórica.

Um estudo que abarcou como corpus cerca de 7.000 folhetos de Cordel, realizado por Jerusa Pires Ferreira, professora da UFBA - Universidade Federal da Bahia – e publicado no livro “Cavalaria em Cordel”, aponta para um dado revelador: o Cordel canta de tudo, de amores a dores, do cangaço a guerras internacionais, mas, mesmo hoje em face a tantos temas, jamais perdeu um dos principais motes recitados e cantados pelos poetas – as histórias fantásticas da tradição oral.

O estudo também insere questões relevantes ao tema: por que personagens, paisagens e valores tão antigos, tão presentes nestas formas do imaginário popular, ainda resistem dentro de uma sociedade cada vez mais moderna e permeada de outras vertentes literárias? A resposta talvez esteja no prazer e na estética que esta forma de arte proporciona.

A verdade é que não se sabe por que o Cordel é o Cordel e nem por que as histórias, contadas por ele, são assim. O que se sabe é que para muita gente dá uma alegria danada ler e ouvir um folheto de Lampião, Padre Cícero, Mulher de Branco ou Saci. Basta apenas gostar.

Curiosidades


Você sabia?

A literatura de cordel ganhou duas adaptações para o famoso romance de Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo. A primeira cujo título era O Romance de um Sentenciado foi de João Martins Athayde em 1951 no primeiro volume e 1964 para os dois posteriores. A segunda adaptação foi uma espécie de continuação do romance, intitulada A vingança do conde de Monte-Cristo, em 1964, por José Costa Leite.

No ocidente, o Brasil é o maior produtor de literatura cordelista: em apenas cem anos publicou aproximadamente 20.000 folhetos, em pequenas tiragens (entre 100 e 200 exemplares cada).

O mais famoso cordelista do Brasil foi também o primeiro a produzir por aqui essa literatura: Leandro Gomes de Barros, nascido em Pombal em 1865. Ele escreveu mais de 230 obras e seus folhetos venderam milhões de exemplares. Até Carlos Drummond de Andrade fez referência a este autor, como "o rei da poesia do sertão e do Brasil"! Acredita-se que ele tenha sido preso por escrever versos considerados ofensivos à polícia no ano de 1918, com a obra 'O Punhal e a Palmatória'. Abaixo, temos um trecho:

Nós temos cinco governos
O primeiro o federal
O segundo o do Estado
Terceiro o municipal
O quarto a palmatória
E o quinto o velho punhal

Cybercordel

Nesta seção, temos alguns links para você acompanhar a literatura de Cordel no mundo digital.

http://www.editoraluzeiro.com.br
Este é o site da Editora Luzeiro, comprometida somente com este tipo de literatura e traz a biografia dos autores de Cordel, eventos que serão realizados, vídeos e muitas outras coisas interessantes sobre o assunto.

http://teatrodecordel.com.br
Site que traz indicações de livros sobre teatro de Cordel, fotos de eventos e oficinas. Este site é produzido por César Obeid, famoso cordelista e arte educador da área.

http://cordelonline.com.br
Este é um site diferente e que tem como principal característica, trazer notícias jornalísticas em sextilhas (estrofes de seis linhas). O mais interessante é que o leitor pode encaminhar sua notícia contribuindo para o crescimento do site.




Nas redes de relacionamento como Orkut, que possuem comunidades sobre variados assuntos, também está expressa a valorização da literatura de Cordel.



  • Cordel
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=68831

  • Literatura de Cordel
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=45940750

  • Desafio de Cordel
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=14351710

  • Oficina do Cordel
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1215511

O Ministério da cultura e da educação, disponibiliza pelo site www.dominiopublico.gov.br, uma série de programas em áudio sobre literatura de cordel.

Todos esses links trazem muita informação. Para você que gosta e admira esta literatura, será de inestimável valor.

Xilo in focus


Esboçaremos aqui um breve histórico e os passos para fazer uma xilogravura. Além disso, mostraremos um exemplo dessa arte ou técnica utilizada com frequência no artesanato e nas artes plásticas do nordeste brasileiro.

A xilogravura é a técnica de impressão de gravuras mais antiga que se conhece e os prováveis criadores são os chineses, no século VI. Os chineses e, mais tarde, os egípcios, indianos e persas a usavam para a estampagem de tecidos, e tal técnica foi amplamente utilizada na Idade Média pelos monges.

O processo de se fazer gravura em relevo sobre madeira (dessa forma também é conhecida a xilogravura, ou xilografia) pouco mudou nos dias de hoje, tendo se conservado sua essência artesanal. Embora a xilogravura tenha mantido suas características principais, ela recebeu grandes contribuições de todos os povos para sua evolução como forma artística, já que no seu início, era vista simplesmente como técnica de impressão.

No século XX a xilogravura influenciou grandemente as outras artes plásticas, devido à introdução das tintas coloridas pela Europa. O grande expoente dessa época foi Thomas Bewick, que dividiu a xilografia em duas criando a técnica da gravura de topo (não há a utilização de tábua e o xilógrafo faz a matriz entalhando na superfície de um disco de madeira obtido com um corte transversal da árvore) em oposição à xilografia de fio, que é feita em um pedaço de madeira cujo corte se faz da copa a raiz, longitudinalmente ao tronco.

Já no Brasil a xilogravura popular foi herdada do traço da cultura medieval portuguesa, e se desenvolveu na literatura de cordel tendo sua manifestação mais expressiva no nordeste. Entre os nomes mais importantes de xilogravadores populares brasileiros estão José Costa Leite, Forró de Varanda, J. Borges, José Lourenço , Gilvan Samico, Severino Borgese, Felipe Mendes, Abraão Batista e seu filho.

Como fazer uma Xilogravura?

O processo de feitura de um xilo é muito fácil, vejamos:

Primeiro vocé precisará dos materiais adequados que são goiva para entalhe, papel comum, papel carbono e vegetal, lápis, goma laca, rolo para pintura, tinta, matriz (madeira), lixa, água raz e um avental para não sujar a roupa.

1° passo: lixar a matriz;
2° passo: passar goma laca na madeira e esperar secar por aproximadamente 30min;
3° passo: repetir o primeiro e o segundo passos;
4° passo: desenhar um esboço em papel comum;
5° passo: passar o desenho para o papel vegetal;
6° passo: transferir o desenho invertido para a matriz utilizando o papel carbono;
7° passo: gravação da matriz com as goivas;
8° passo: fazer o registro (marcação dos limites da madeira em um papel);
9° passo: entintar a matriz e imprimir;
10° passo: limpar a matriz.

Estará pronta a sua Xilo!